Todas as noites, antes de dormir, eu me pergunto: por que razão, lugares, enredos e personagens surgem sem parar na minha mente?
Por que não consigo esquecê-las? Por que, desde a infância vivo “atormentado” por histórias que só se “acalmam” quando começo a escrevê-las?
Leia o breve texto e conheça um pouco mais sobre o meu desafio de ser escritor.
O cenário do mercado literário brasileiro
Escrevo este texto no fim de 2018, analisando as notícias do mercado literário brasileiro. Grandes distribuidoras de livros passando por dificuldades financeiras, colocando em crise editoras, e de forma direta os escritores, dificultando a cadeia de comercialização de livros. Aliado a estas notícias desagradáveis, temos a acirrada competição com novas formas de entretenimento, mídias sociais, serviços de fornecimento de "streaming" de vídeo, onde é possível assistir filmes, séries e documentários sobre qualquer gênero.
Concluir então, com tristeza, que hoje em dia existem várias formas mais “agradáveis” do que passar o tempo lendo.
O meu desafio de ser escritor
Além do cenário atual, existe a necessidade de motivação para ficar dois, três anos, pesquisando, planejando e escrevendo uma história. Como não consigo encontrar uma resposta para minha criatividade sem limites, também não consigo encontrar uma resposta plausível que explique a razão de continuar a escrever.
Decidi parar de buscar respostas, porque acredito que são as incertezas que movem o mundo, e ao longo da minha carreira, passei a me dedicar com afinco na arte de escrever, com uma certa dose de resignação, devo admitir, mas também, com a consciência de produzir bons trabalhos.
A razão para continuar
Este não é um texto pessimista, muito pelo contrário.
Acredito na reflexão de Galileu Galilei “Não se pode ensinar nada a um homem; só é possível ajudá-lo a encontrar a necessidade da busca pelo conhecimento dentro de si.”
Acredito no meu trabalho, que "escrever" deve vir antes de "desistir".
Escrevo para compartilhar, faço isso há mais de vinte anos como escritor independente, e recordo-me de todas as portas que já se fecharam diante de mim. Aprendi a conviver com as histórias que não saem da minha mente, a acordar de madrugada para "assistir" minha imaginação trabalhando. Como canta Humberto Gessinger, escrevo "a luz de velas, quase na escuridão, longe da multidão".
Conheço as críticas, todas elas. As que prezam pela qualidade do texto, registro para aprimorar meu trabalho, com a convicção de que sempre é possível e necessário melhorar o texto. Todas as outras, aprendi a deixá-las ao sabor do vento.
Descobri que sou um "ladrão de tempo"
Para mim, escrever é como respirar.
Projetar uma história, criar personagens e suas tramas é como contemplar o mar, o sorriso de uma criança ou apreciar uma boa música. Simples, bela e difícil de explicar.
É uma alegria singela e ao mesmo tempo profunda, a possibilidade de compartilhar um história que nasce dentro da minha alma, com todas as experiência que já vivi e desejo viver até o fim de minha existência.
Publicar um livro é a certeza de subir um degrau de uma escada sem fim, ter a consciência que escrevi com o coração, que meus personagens são únicos por que são meus. É me despedir deles como se despede de grandes amigos, e partir para uma nova jornada. Uma nova história, com a responsabilidade de que é preciso aprimorar sempre.
E é claro, porque, assim com a vida, sempre precisamos escrever uma nova história.
Por isso não posso parar.
Porque sou um ladrão de tempo. Eu roubo o tempo das pessoas que leem minhas histórias.
É por isso que escrevo.
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