Em minha mente, as histórias sempre surgiram muito rápidas. Personagens, ambientes e diálogos aparecem como se estivesse assistindo um filme, e quando comecei a escrever, acreditei que minha tarefa seria simples: descrever o que estava “Vendo”.
Com o passar dos anos, percebi que havia algo nos meus textos que precisava aprimorar.
Dentre várias características necessárias para construção de um bom texto, a utilização dos verbos é como temperar um bom prato. Pode-se estragá-lo, ou dar um toque especial, único, fazendo-nos sentir prazer ao degustá-lo.
Com essa percepção, passei a estudar a utilização dos verbos, recomendada por grandes escritores, como Ken Follet, que numa entrevista afirmou: "Quanto mais se conhece a língua, melhor será a qualidade do texto".
Então, em vez de “Ver” minhas histórias, passei a “Enxergá-las”.
Uma breve degustação sobre verbos
Numa frase, o verbo tem uma função clara: indicar uma ação, um fenômeno ou um estado, e o mais importante, situá-la no tempo. O conceito é simples, mas há uma grande possibilidade de classificá-los, variadas formas de representação, que podem ou não enriquecer um texto.
Em Morfologia verbal, podemos classificá-los dessa forma:
Regulares: O radical do verbo não muda. AMAR – eu amo, tu amas, ele ama, nós amamos.
Irregulares: O radical do verbo se altera.
HAVER – eu hei, tu hás, ele há, nós havemos.
Anômalos: Sofrem profundas alterações no radical. IR – eu vou, tu vais, ele vai.
Defectivos: Possem conjugação incompleta, e podem se confundir com outros verbos.
FALAR e FALIR – Na 1ª pessoa ficaria igual.
Abundantes: Apresentam duas formas equivalentes no particípio, uma regular e outra irregular.
ACEITAR – Aceitado (regular) – Aceito (Irregular)
Tempos Verbais
Verbos expressam o tempo que a ação ocorreu: presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente, futuro do pretérito. Além disso, também podemos destacar o modo verbal, que apresenta o modo que ação pode acontecer:
Modo Indicativo: Fato concreto.
Eu escrevo com qualidade.
Modo Subjuntivo: Fato que gera dúvida, incerteza.
Se ele escrevesse com qualidade, teria sucesso.
Cada tempo de conjugação tem sua finalidade: representar o fato narrado no texto, e cabe ao autor escolher habilmente, com o objetivo de torná-lo fascinante.
Além da Gramática
Esta publicação não tem por objetivo explicar conceitos sobre verbos. Esse assunto é apresentado nas escolas e existem muitos livros e sites que possuem farta documentação para quem deseja se aprimorar.
Minha reflexão sobre o uso dos verbos e sua importância na qualidade de um texto é que sua escolha pode mudar o sentido de uma frase, alterando o contexto de uma história. Só percebi isso depois de estudar o texto de grandes romancistas e perceber a dedicação e cuidado no uso dos verbos.
Há vários exemplos, mas vou citar apenas dois: amar e apaixonar.
Parecem sinônimos, mas não são.
Apaixonar é entrar numa tempestade, uma entrega total, submissa e incondicional. É também a demonstração de vulnerabilidade sobre um sentimento incontrolável, relacionado por um sentimento que extrapola a razão.
Amar é cuidar, proteger, compreender e criar laços duradouros para sempre. Também pode ter dimensões filosóficas, religiosas e poéticas.
Por isso, a escolha dos verbos amar e apaixonar significará uma mudança significativa no contexto de uma história, e caberá ao escritor decidir sua narrativa, um desafio constante para quem deseja escrever uma boa história.
O desafio do Escritor
Se analisarmos textos bem construídos, poderemos constatar uma habilidade na utilização dos verbos. Além da premissa básica de correta conjugação, existe outra habilidade adquirida com tempo e dedicação: a utilização do verbo com o objetivo de produzir uma história de qualidade. Esta, com certeza é uma das características que determinam um grande romance.
Escrever é cozinhar
Mais importante que ter criatividade, é preciso agir. Não adianta ter imaginação sem a ação para escrever, revisar e publicar. Antes de saber utilizar os verbos, é preciso ter consciência que é preciso agir.
E aprimorar sempre.
Numa analogia, escrever é cozinhar.
Podemos ter os ingredientes e a receita, mas se não tivermos preocupação com o tempo e o preparo para cada alimento adicionado, por melhor que seja nossa intenção, não teremos o sucesso. Adicione “dedicação”, ela proporcionará o “terroir” de cada cozinheiro.
Assim, cozinhar ou escrever conjuga-se junto com o verbo dedicar.
Simples assim, na arte de produzir refeições deliciosas.
Simples assim, na arte de escrever livros deliciosos.
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